Nova espécie de aranha rara descoberta na Chapada Diamantina

A Chapada Diamantina é agora oficialmente o lar de uma nova e curiosa espécie de aranha. Batizada de Typhochlaena chapadensis, a espécie foi descrita por cientistas brasileiros em 2025 após ser encontrada na região de Lençóis-BA. 

Diferente do que o nome “tarântula” costuma evocar, trata-se de um animal minúsculo — com cerca de 1,3 cm — e com uma coloração marcante que lembra joias vivas, com anéis claros nas patas e manchas vermelhas no abdômen preto.

O achado reforça o papel da Chapada Diamantina como um reduto de biodiversidade e endemismo. A região, localizada no centro do estado da Bahia, possui uma geografia singular, com altitudes variadas, vales estreitos e florestas que abrigam espécies exclusivas do bioma. A vegetação combina elementos de Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica, criando um mosaico ecológico raro no país.

Chapada Diamantina

Typhochlaena chapadensis. Foto: Vinícius Antunes

A nova aranha pertence ao gênero Typhochlaena, conhecido por espécies de comportamento arborícola, ou seja, que vivem em árvores, escondendo-se sob cascas e galhos. Essa característica, somada ao seu porte reduzido e aparência exótica, torna o grupo alvo do comércio ilegal de animais silvestres. Por isso, duas espécies já figuram no Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção. A boa notícia é que a Typhochlaena chapadensis foi encontrada em uma área próxima a uma unidade de conservação federal, o que ajuda a garantir sua conservação.

Segundo os pesquisadores, o macho da nova espécie foi localizado dentro de uma residência — provavelmente em busca de alimento ou acasalamento —, enquanto um exemplar jovem foi descoberto sob a casca de uma árvore, em área próxima à vegetação natural. Ainda não se conhece a fêmea da espécie.

O que dizem os pesquisadores?

Conversamos com um dos pesquisadores responsáveis pelo estudo Vinícius Antunes.  Morador de Lençóis, Vinícius é bacharel em Zootecnia, biólogo e mestre em Ciências com ênfase em Ecologia Aplicada. Confira a entrevista:

Guia Chapada Diamantina: Qual é a importância da descoberta da Typhochlaena chapadensis para a ciência e para a biodiversidade da Chapada Diamantina?

Vinícius Antunes: Quando estudamos a taxonomia, que é a classificação, identificação e nomeação dos seres vivos, a descoberta de uma nova espécie é sempre um motivo especial de comemoração, pois é conhecendo quem são os nossos exemplares animais, que podemos pensar em ações quando tratamos de biologia da conservação.
No caso das mini-tarântulas arborícolas, conhecidas também por tarântulas-jóias, devido à sua coloração chamativa e brilhante, ela é, ainda, a quinta espécie desse grupo a ser descrita pela comunidade científica, trazendo à tona a grande questão de que pouco sabemos quem são os representantes da fauna do Brasil, a exemplo dos aracnídeos da Chapada Diamantina.

Guia Chapada Diamantina: Essa nova espécie representa algum risco para as pessoas? A aranha é venenosa ou perigosa de alguma forma?

Vinícius Antunes: Risco nenhum! São seres inofensivos que não possuem veneno ou qualquer outra toxina capaz de oferecer algum risco à vida humana. O que elas apresentam são cerdas urticantes no abdômen que podem causar uma certa irritação quando entram em contato com a nossa pele. Então, por estas e outras razões, são super traficadas no mercado ilegal de animais silvestres no comércio de pets, principalmente em países da Europa e nos Estados Unidos.
Essa é mais uma razão essencial para conhecermos quem são os nossos animais, pois muitos deles já são traficados no mercado internacional, e nós nem sabemos quem são eles.

Guia Chapada Diamantina: Como a descoberta dessa aranha reforça a urgência da preservação dos ecossistemas da Chapada Diamantina?

Vinícius Antunes: O fato do único registro dessa nova espécie localizar-se no território da Chapada Diamantina já a torna uma espécie muito especial, o que requer mais estudos a fim de conhecermos a ecologia básica da T. chapadensis, como sua distribuição, comportamento alimentar e reprodutivos, por exemplo. Ou seja, a descoberta deste mais novo exemplar da fauna brasileira, endêmico desse ecossistema tão rico e, ao mesmo tempo misterioso, só reforça a importância de elaborarmos ações de conservação em consonância com políticas públicas que visam proteger a fauna que habita em unidades de conservação e seu entorno, como a região de Lençóis.

Biodiversidade da Chapada Diamantina

Mais do que uma descoberta científica, a identificação dessa aranha reforça a importância de proteger os ecossistemas da Chapada. Com sua beleza discreta e comportamento inofensivo, a Typhochlaena chapadensis é um lembrete encantador da vida silvestre que resiste — muitas vezes silenciosamente — nos cantos preservados do Brasil.

Sobre a pesquisa

Pesquisadores responsáveis pelo estudo:
Vinícius S. Antunes (Brigada de Resgate Ambiental de Lençóis – BRAL)
Rogério Bertani (Instituto Butantan)
Jonas E. Gallão (Universidade Federal de São Carlos / Instituto Nacional de Pesquisas do Pantanal)

Instituições envolvidas na pesquisa:
BRAL – Brigada de Resgate Ambiental de Lençóis (BA)
Instituto Butantan
Universidade Federal de São Carlos (SP)
Instituto Nacional de Pesquisas do Pantanal (MT)

Publicação científica:
O estudo foi publicado na revista Zootaxa, edição 5660 (volume 1), em 8 de julho de 2025.
Link para a publicação: https://mapress.com/zt/article/view/zootaxa.5660.1.6#title-0

Por Thais de Albuquerque em 16/07/2025

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