Da Chapada Diamantina a Curitiba de bike!

Dando sequência à nossa série de matérias que homenageia as mulheres neste mês de março, apresentamos a seguir o relato de Gracielle – ou apenas “Gra” – que encarou uma viagem de bike da Chapada Diamantina até Curitiba, e nos mostra que não só podemos como devemos realizar nossos sonhos!

Meu nome é Gracielle Fuchs. Tenho 38 anos e sou mãe de 3 filhos. Nasci em Curitiba – PR e vivo na Chapada Diamantina – BA, desde 2010. Sou apaixonada por esportes como caminhada, corrida, escalada e sempre alimentei o sonho fazer um longo passeio pela Chapada pedalando. O único problema é que eu não tenho bicicleta, rs, mas isso nunca me impediu de sonhar.

Gra em família.

Tenho um grande companheiro de vida e de aventuras, o Renato, com quem já havia planejado uma grande jornada pelas trilhas da Chapada, porém um acidente na montanha me obrigou a esperar.

Gra e Renato.

Após minha recuperação, Renato veio com a proposta passarmos o Natal com a família dele no Rio de Janeiro e me mostrou um roteiro para fazermos de bike, em que passaríamos por picos de escalada que eu adoro, além uma visita a Pancas, no Espírito Santo, lugar que sempre quis conhecer.

Pancas – ES. Foto: Google

É claro que bateu uma insegurança, pois esta é a época de alta temporada no turismo da Chapada Diamantina. Fiquei pensando se devia ficar e trabalhar, mas logo a dúvida foi substituída pela imensa vontade de viver essa experiência, afinal, era uma oportunidade de realizar vários sonhos ao mesmo tempo. Então eu não só topei, como sugeri expandirmos o roteiro até Curitiba onde a minha família mora.

O planejamento
Pra começar, eu precisava de uma bicicleta. Bastaram alguns minutos de conversa com um grande amigo e esta parte estava resolvida. Ele gentilmente me emprestou a dele e, em poucos dias, a bike estava preparada.

A bike preparada para partir!

Não levamos barraca, somente isolantes térmicos e sacos de dormir. Estávamos dispostos a dormir de forma improvisada e também a passar algumas noites em pousadas, se fosse necessário.
Nossas premissas eram fazer a viagem sem GPS e sem pegar nenhuma BR. Queríamos exercitar nosso senso de direção e nossa comunicação. Tínhamos, portanto, um mapa do Brasil, várias anotações, poucas coisas na mochila e muita vontade de pedalar.

Planejamento à moda antiga.

Partiu pedal!
Saímos dia 8 de dezembro da porta de casa no Vale do Cercado, onde vivemos, em Palmeiras – BA, rumo ao distrito de Guiné, sentido Sul do Parque, onde passamos a primeira noite.
O começo foi pesado. Levei um tempo para encontrar meu próprio ritmo. A ansiedade para pedalar na marcha leve e não usar quase nada das pesadas foi uma das coisas que me cansou, mas aos poucos fomos ganhando confiança nas bikes e em nós mesmos.
Havia também o receio de sermos surpreendidos por pessoas mal-intencionadas, afinal é um tipo de viagem que nos deixa expostos. Mas o medo também foi ficando para trás à medida que íamos avançando e nos encontrando com pessoas simples e de bom coração. Muitas nos ofereciam o que podiam. Nunca comi tanto morango na minha vida, rs! Éramos admirados e incentivados a cada cidade que passávamos. O visual que tivemos ao pedalar beirando a Serra do Sincorá é surpreendente, recomendo muito!
Quando chegamos em Ibicoara, na casa da Família X, estava certa de que tudo iria correr bem. O primeiro sonho estava realizado. Fomos de norte a sul da Chapada Diamantina em três dias.

A casa da Família X, em Ibicoara, ainda na Chapada Diamantina.

De Ibicoara, partimos sentido Vitória da Conquista-BA. A serra e os trilhos de trem nos acompanhariam até o final da trip. Muitas subidas, estradas secundárias e de terra, tudo fluiu. Passamos por Novo Acre, Contendas do Sincorá e Sussuarana. Na tentativa de cruzar por uma estrada de terra durante a noite, erramos o caminho e tivemos que dormir debaixo de um umbuzeiro sensacional! Que casa! Os imprevistos geram situações inusitadas…

E fomos em frente. Visuais alucinantes, pura caatinga, ataques de espinhos… Até perdermos câmaras e pneus. Aí, não dava para continuar. Em Vitória da Conquista, compramos pneus, câmaras e pegamos um ônibus. Atravessamos para Teófilo Otoni-MG. O objetivo agora era chegar perto da Pedra Riscada-MG, um monolito de granito com 1.260 metros de altura que faz parte do maciço da Serra dos Aimorés, numa região que concentra os maiores afloramentos de granito do Brasil. Não levamos equipamentos de escalada, a ideia era contemplar as lindas formações e sonhar com a volta para escalar.

Pedra Riscada – MG. Foto: Google

Batendo cabeça neste trecho, fomos pedir informações quando um senhor nos convidou para um café. Cafezinho é impossível negar, né? Era João da Mata, um senhor de quase 90 anos que mesmo estando praticamente cego, não deixou de fazer o que mais amava: cavalgar por sua fazenda. Este encontro me fez entender que vida é feita para vivê-la.

Chegamos a São José do Divino, norte de Minas, e o destino era Pancas – ES. Daria mais ou menos 150km. Ao nos aproximar de Pancas, era como se já estivéssemos sentindo o granito nas veias! Chegamos lá pedalando e meu segundo sonho foi realizado, exatamente como eu imaginava! O Monumento Natural dos Pontões Capixabas é lindo demais!

Chegando em Pancas.

Era hora de pegar um ônibus até Barra do Piraí -RJ, para encontrar a família do Renato. Descer nas rodoviárias e sair pedalando é muita liberdade!
Encontramos os familiares, descansamos, comemoramos o Natal e o Ano Novo com o corpo e alma revitalizados!

No Rio, visitamos o lindíssimo Parque Nacional do Itatiaia, fomos à Serra da Beleza, pedalamos nos entornos de Barra, e dia 10 de janeiro estávamos mais do que prontos para voltar para a estrada.

Com amigos em Itatiaia e na Serra da Beleza.

Próximo destino: Pedra do Baú, em São Bento do Sapucaí – SP.

Pedra do Baú – SP. Foto: Google

Dormimos a primeira noite em Pouso Seco, última cidade do Rio de Janeiro, no dia seguinte cruzaríamos a fronteira com São Paulo pela rodovia dos tropeiros, totalmente reformada, com o asfalto feito tapete e o visual constante da Serra da Mantiqueira.
Em Lorena, conhecemos um ciclista que nos deu a dica de irmos de Guaratinguetá para Gomeral e de lá para Campos do Jordão. Lá fomos nós. Enfrentamos as maiores subidas da trip que renderam os visuais mais incríveis, do alto. Empurramos bike um dia inteiro.

Subir empurrando a bike faz parte.

Haviam trechos impossíveis de pedalar, com estrada de pedregulhos. Pagamos pecados por uns 100 anos! As imagens de Nossa Senhora Aparecida estavam por todos os lados, pois este é um caminho de peregrinos. Deu pra entender porquê…

As ladeiras infinitas.

Acampamento improvisado e zero comida antes de chegar a Campos do Jordão. No dia seguinte, batemos em São Bento do Sapucaí. Reservamos um dia para subir a Pedra do Baú pela via ferrata, um visual alucinante e diversão garantida. Mais um objetivo alcançado!

No topo da Pedra do Baú!

Para sair de São Bento, mais um dia empurrando bike, dormida no mirante Belvedere, nascer do sol lindo com vista pro Baú. Que dias e que noites!
A meta agora era chegar pedalando em Cambuí – MG e de lá pegar o ônibus para São Paulo – SP, para então cumprir nossa jornada até seu destino final, em Curitiba – PR. Indescritível chegar à casa de meus pais, de bicicleta. Foi uma grande realização também!

Casa da minha família, em Curitiba. Lar doce lar.

Não tínhamos muito regras para pedalar. Alguns dias pedalamos 20, 50 ou 80 km.  Tudo muito flexível: horas de pedal, de descanso, de se alimentar, de empurrar bicicleta. Isso nos deu uma sensação de liberdade tão grande que poderíamos cruzar o mundo. Era tanta disposição que nada nos fazia esmorecer, ainda mais com o nosso companheirismo, que foi fundamental.

Ao todo, foram mais de 1.000 km em 23 dias. 50 cidades e vilas, 6 estados e muitas montanhas. Saímos desta experiência com a certeza de que há muita gente boa no mundo, e quando não há, cabe a nós sermos essas pessoas.  A descoberta que nenhum sonho é impossível permanecerá comigo para sempre, assim como a fé na estrada!

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