Café e afeto: a visão de empreendedores da Chapada Diamantina

Por Augusto Carvalho – 09 de junho de 2023

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Publicado em 11 de maio de 2022 – PDG Brasil

Nessa reportagem sobre a bebida, o especialista Augusto Carvalho escreve para a Perfect Daily Grind e analisa os dados de consumo e os modos de produção do café. Leia a entrevista com quem planta, colhe e torra alguns dos melhores grãos do Brasil.

Ao falarmos do café e sua simbologia, torna-se imprescindível falarmos do principal elo entre o fruto e a xícara: as pessoas. Conversamos com um produtor de café especial e um mestre de torra que são referências nas suas respectivas áreas de atuação na Chapada Diamantina, na Bahia. Fizemos duas perguntas para ambos.

Iniciamos a “prosa” com uma família que respira, ama e vive o café na sua plenitude, da torra até a produção de uma marca própria na bucólica e histórica cidade de Rio de Contas. O barista e mestre de torra Lucas Castro e Maísa Cardozo, gestora da Blenditta Torra de Bons Cafés, são os responsáveis pelo Café Blenditto.

Para eles, o café é fonte inspiradora de bons sentimentos. “O café é uma forma de encontro. Uma possibilidade de criar vínculo com as pessoas, trocar”, acredita Lucas.

“É uma relação muito íntima já que para o convite à bebida necessitamos seriamente de um nível de intimidade, de um assunto, de um convívio. Como técnico/apreciador, gosto de beber pensando na bebida, mas adoro quando me pedem para fazer o café, pois sei que o papo ou a festa vão se alongar.”

Essa perspectiva que envolve a simbologia e as afetividades ligadas à bebida pode colaborar inclusive na forma como os empreendedores de negócios de café buscam atingir seus consumidores e suas consumidoras.

“Acho que pensar no todo é fundamental. A pessoa precisa pegar a embalagem e quase que ‘vendada’ chegar até o nosso trabalho. Uso essa metáfora, pois aquilo que produzimos (como o café) em estado de arte, o artesanato, toca as pessoas em lugares muito sutis”, explica Lucas.

Por conta disso, o torrefador conta que tenta sair um pouco da mesmice das pontuações e notas sensoriais e busca trabalhar com a ideia de momentos que são impulsionados por esse néctar.

“Minha questão afetiva é: o que este café oferece para além do beber? Achar isso é um misto entre o que vivemos e o que queremos. Creio que dançando essa música, eu encaixo um produto que vem há anos unindo pessoas na percepção de que sabor é saber.”

A paixão de Lucas já está transpondo gerações. Sua filha, Cristal, de apenas 1 ano e meio, pede à mãe, Maísa, o doce néctar: “Café, mamãe, quero café!”.

A visão de quem produz

Seguimos na busca por entender a percepção de alguns profissionais do mercado sobre os significados do café e entrevistamos Rodolfo Moreno, produtor e mestre de torras da Moreno Torradores de Café, sediada em Piatã, também na Chapada Diamantina. Rodolfo é também idealizador da Coophub, uma rede de produtos oriundos da Agricultura Familiar da região e um dos fundadores da Coopiatã (Cooperativa de Cafés Especiais e Agropecuária de Piatã).

No entendimento de Rodolfo como empreendedor do agronegócio, o café tem a seguinte percepção: “A meu ver é um produto que traz e cria muitas conexões. Como uma via de mão dupla, ele vai e volta. Creio que todo o amor que coloco em meu produto seja para que o consumidor tenha prazer em consumir um café, do jeito que ele achar melhor, seja ele simples como um café de trabalhador feito na fogueira e decantado com carvão em brasa ou até um método mais rebuscado, como aeropress ou globinho. O que realmente importa é a sensação de que o café que está sendo consumido lhe toque o coração como um abraço apertado de alguém querido”.

Percebemos ainda uma preocupação de Rodolfo com a questão sustentável do negócio. “E, sabendo que além de tudo isso o produto que respeita o meio ambiente e participa ativamente da comunidade local potencializando o socioeconômico e gerando sustentabilidade em todo o processo, o consumidor sente, além do prazer e do abraço apertado, a segurança de estar praticando um consumo consciente”.

Já do ponto de vista do apreciador da bebida, Rodolfo acredita que: “O café permeia e entrelaça diversos sentimentos”.

“A maioria das pessoas com as quais conversamos em eventos e feiras fala do café como uma saudosa lembrança dos avós que no raiar do dia preparavam o café, fazendo com que seu aroma invadisse toda a casa e essa lembrança, boa como um abraço, é transmitida toda vez que se sente o mesmo aroma”, conta.

Além dessa simbologia de um abraço querido e apertado, Rodolfo explica que fica para ele o desafio de refletir e organizar a memória olfativa para compreender o café que está bebendo. “Tal qual um músico que, ao ouvir uma canção, além de ouvi-la como um todo, percebe os detalhes de cada instrumento, preciso entender o café. Nesses detalhes que aprecio e respeito essa bebida fantástica”, diz.

O DNA cafeinado da família Moreno se estende a Elba Soares, companheira de Rodolfo, e a seus filhos, Marcelo Moreno e Daniel Anakin, que enxergam o cafezal como um grande parque de diversões.

Fica nítido como as percepções de Lucas e Rodolfo se completam e estão interconectadas entre si. O café é um vetor que transmite o prazer, a felicidade e o compromisso em destinar aos bebedores de café o melhor produto possível com responsabilidade social, econômica e ambiental. Existe grande relação entre café e afeto.

Certa vez, numa conversa cafeinada, perguntamos a Jean François Lacrevaz, de 87 anos, grande produtor de marmelo, nascido em Rummily, oeste da França: “Qual a lembrança mais tenra da sua infância?”.

E essa pessoa com tanta vida já transcorrida, de imediato respondeu: “O aroma do café que minha mãe preparava às 7h da manhã, antes de irmos para a escola”.

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