Neste sábado, dia 17, o Parque Nacional da Chapada Diamantina (PNCD) completa 31 anos anos de existência! Localizado na região central do estado da Bahia, este santuário ecológico tem por objetivo proteger os ecossistemas da Serra do Sincorá, especialmente suas nascentes. É nele que está situado o principal rio baiano, o Paraguaçu, responsável por boa parte do abastecimento da região e da capital.
Com sede na cidade de Palmeiras, o Parque é administrado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação Ambiental (ICMBio), uma autarquia ligada ao Ministério do Meio Ambiente. A sua área ocupa apenas uma parte da Chapada Diamantina (mais de 150 mil hectares) e apresenta diversidade de espécies, inclusive, ameaçadas de extinção, como o tamanduá-bandeira e a onça-parda. Exemplares endêmicos, que só são encontrados por aqui, também são destaques, a exemplo do beija-flor-de-gravata-vermelha. Em meio à caatinga, com resquícios da mata atlântica e exemplares típicos do cerrado, o PNCD está em um território de clima diferenciado: em pleno sertão nordestino, surge um oásis bastante propício para as chuvas.
Trabalho coletivo
Cuidar de um paraíso do tamanho do Parque Nacional da Chapada Diamantina não é tarefa fácil. Além do mais, é tarefa de todos nós. Pensando nisto, foi criado o Conselho do Parque Nacional da Chapada Diamantina (CONPARNA-CD). Com 15 anos de atuação, o Conselho acaba de ter sua composição renovada e constitui-se numa instância de participação na gestão do PNCD, tendo representações de comunidades, associações, brigadas de incêndio, universidades, prefeituras e outros órgãos públicos. Suas reuniões são abertas ao público.
Foi definido pelo CONPARNA-CD que as ações de prevenção a incêndios são a prioridade para este semestre. Qualquer pessoa que testemunhar algum incêndio ou irregularidade no PNCD e em seus arredores deve denunciar. Anote aí os telefones:
Instituto Chico Mendes: (75) 3332-2418 / 3332-2310
Mais informações: conparna.cd@gmail.com
Como tudo começou
Do sonho à realidade, o caminho percorrido para a criação do Parque Nacional da Chapada Diamantina teve seus obstáculos, porém revelou boas surpresas. “Sabíamos que não podia ter estrada na área do Parque. A BR-242 era o limite, entre Lençóis e Mucugê. Essa foi a ideia que levamos para Brasília. Em 1982, os técnicos chegaram para vistoriar em campo. Fomos de carro até as proximidades da Fumaça, do Ribeirão do Meio e, depois, pegamos um helicóptero até Mucugê. O piloto perguntou se queríamos ver mais cachoeiras e voamos para o sul. Em minutos, o Parque cresceu uns 40%. Tivemos muita sorte, pois conseguimos englobar uma área enorme, repleta de serras e cachoeiras”, rememora Roy Funch, primeiro diretor do Parque, biólogo norte-americano, morador de Lençóis há 40 anos.
Mesmo sem a tecnologia disponível atualmente, o Parque foi traçado no papel até ganhar forma e vida. “Existiam algumas povoações, como o Pati, mas, em geral, evitamos a presença de comunidades na área do PNCD. Os atrativos foram descobertos aos poucos, claro que os garimpeiros já conheciam, mas, à medida que encontrávamos uma cachoeira, inseríamos no roteiro turístico, como foi o caso da Primavera, do Mixila e do Sossego. Fizemos tudo no chão! Não havia GPS. Minha tese de doutorado foi justamente sobre isso: Como seria o Parque Nacional da Chapada Diamantina com os recursos tecnológicos atuais? Após a sua criação, em 1985, programas de TV falavam da Chapada, houve até gravação de novelas e o turismo começou a deslanchar. Hoje acredito que ele está nivelado, declara.
O controle de visitação é outro assunto lembrado pelo biólogo. “A serra é livre, os guias podem fazer turismo de forma responsável. Se não existisse o Parque, acredito que todos os rios teriam dono. Ele preservou o nosso acesso a essas áreas, evitando sua privatização. Se houver controle demais, teremos efeitos negativos na economia. O Pati já está sentindo o impacto do turismo de massa. Provavelmente isso terá de ser controlado, pois as trilhas são frágeis. O sucesso também pode ser ruim. Precisamos pensar ‘até que ponto deve chegar o desenvolvimento?’ Isso é difícil de lidar porque todos querem ganhar. O controle é necessário, mas com cautela, sem abuso. Minha advertência para o futuro é: ‘cuidado com o desenvolvimento!’ Ele é bom, mas tem seu lado perigoso…”, enfatiza o biólogo, e conclui: Acho estonteante saber que o Parque está completando 31 anos. Quase não dá pra acreditar! Acho que ele está cada vez mais bonito. Quero parabenizar todo mundo que se esforça pra preservá-lo: os guias, principalmente, nossa linha de defesa na educação ambiental; os brigadistas voluntários… Temos uma coisa muito especial aqui e temos de preservá-la para que as futuras gerações tenham acesso à tamanha beleza!”.
Fique por dentro
O Parque Nacional pode ser acessado por mais de 30 trilhas dispersas nos municípios de Andaraí, Ibicoara, Itaetê, Lençóis, Mucugê e Palmeiras. Grupos ambientalistas, como o de Palmeiras (GAP) e Lençóis (GAL), além das brigadas voluntárias de combate a incêndio e associações de condutores de visitantes (ACVs) contribuem diretamente com o trabalho dos analistas ambientais do ICMBio. Mais informações estão disponíveis no blog e na fanpage do PNCD.
Com a intenção de preservar a Chapada, o ICMBio se reuniu no mês passado com brigadistas voluntários de vários municípios para criar um planejamento de combate aos incêndios florestais que anualmente atingem a área. Por conta da escassez de recursos não haverá comemorações oficiais neste ano.
Alguns atrativos localizados dentro do Parque Nacional:
Foto de destaque da matéria: Rampa do Caim / por Açony Santos