Da redação, por Marcela Moura, em 02/12/21.
Grear Patterson é o que podemos chamar de prodígio. Cineasta, escultor, pintor e fotógrafo, teve seu primeiro contato com as artes aos 11 anos, quando ganhou uma câmera “Super 8mm”, que filmava em película.
Aos 33 anos, tem uma sólida carreira, tendo trabalhado com grandes nomes como Gia Coppola (neta do grande cineasta Francis Ford Coppola), James Franco e Laurie Simmons.
Nascido em Connecticut, EUA, o artista está pela primeira vez visitando o Brasil. Veio a convite de uma amiga que comprou terras em Lençóis para fazer uma residência artística, mas sua história com a Chapada Diamantina é bem mais antiga, e atravessa gerações, como você verá a seguir.
Após ter passado seus primeiros anos em North Carolina, Patterson cresceu entre Nova Iorque e Barcelona, filho de pais artistas.
“Vim ao Brasil buscar o mesmo tipo de energia que estávamos conversando a respeito, de energia, sol, segurança, força e pureza. Eu sempre fiz trabalhos que abordassem esses temas, mesmo que não estivesse inserido neste contexto. Eu estava sempre imaginando e tirando inspiração da minha família. Minha mãe, chilena, cresceu no deserto do Atacama (…)”.
Apesar de ter passado a infância em um local cercado de rios e mata verde (North Carolina), aos 17 voltou para Nova Iorque, pois sentia a necessidade de estar novamente na cidade grande. Gostava de passear em museus e foi lá que conseguiu se formar e sustentar como artista.
“É engraçado como agora consigo entender que é na natureza que conseguimos estar realmente conectados. Foi uma longa jornada para eu perceber isso”.
Ao ser questionado sobre a influência da Chapada Diamantina em seu processo criativo, o artista afirmou:
“O que me deixa bastante animado é que aqui, pela primeira vez, tenho a possibilidade de pintar ‘em campo’, na natureza. Antes eu pintava a natureza a partir de formas sintéticas, como fotografias ou camisetas”.
Ele e a esposa, Steffy Argelich, estão esperando seu segundo filho, uma menina, e reiteram a importância do contato da criança com um estilo de vida mais simples, mesmo que reconhecendo a relevância da cidade grande na criação de um ser pensante.
INSERT:
Esta parte da entrevista me remete à nossa última matéria, sobre as crianças da Chapada (https://www.guiachapadadiamantina.com.br/lugar-de-crianca-e-na-natureza/?token=31877).
E já que trouxemos a esposa de Grear, para a matéria, não há melhor momento para contextualizar a relação do artista com a nossa terrinha: Por volta de 1880, seu bisavô foi o único sobrevivente de uma expedição à Lençóis, onde todos os tripulantes morreram de malária.
O garimpo já havia sido proibido, mas ele comprou dois diamantes para propor noivado e casamento à sua esposa, Edith. O anel que hoje repousa no dedo de Steffi é feito justamente com esta gema, levada por seu antecessor em meio a tantas provações, para os EUA.
E Grear entende a poesia que significa este retorno. É como um ciclo se fechando.
E apesar do avô de Patterson nunca ter conhecido o próprio pai, é como se a pedra trouxesse essa conexão de volta, por gerações e gerações, até os próprios filhos do artista.
O pintor está atualmente produzindo uma série de quadros que retratam a jornada de seu bisavô de volta à América do Norte, após sua passagem pelo Brasil. A analogia é a de que estamos todos à deriva, à mercê dos ventos e marés, do fluxo do Universo, e que este nos leva exatamente aonde devemos ir.
Grear é fascinado pela geografia e geologia da Chapada, e acredita que a cidade de Lençóis é um verdadeiro ‘portal’ dimensional.
“Não é à toa que, quando adentramos a cidade, se lê ‘Portal de Lençóis’”.
O que ele leva daqui? Com certeza a energia e alegria dos habitantes. “São imunes ao nonsense do dia-a-dia do standard norte-americano. Levando para o lado artístico, desejo voltar e, certamente, produzir aqui as melhores obras de minha vida”.
As pinturas do artista foram realizadas aqui mesmo, no Mercado Cultural, onde estiveram expostas durante o mês de Novembro.