Exposição ‘Coisas Existentes em Função do Desejo’

Marcos Zacariades

Foto da exposição.

Diamantes e dentes. Inconsciente e alteridade. Uma necessidade imperativa de extrair a nobreza do que foi devastado e pode, enfim, retornar como obra de arte. A exposição Coisas Existentes em Função do Desejo, de Marcos Zacariades, 52, que será aberta nesta terça-feira, 1º, para convidados na Galeria Arcos, da Caixa Cultural Salvador, apresenta um trabalho provocativo.

Nas instalações, vídeos, esculturas e assemblagens do artista visual se traduz um percurso que tem início quando ele esteve pela primeira vez em Igatu, povoado de Andaraí em 1984, e se estende até os dias de hoje.

Trinta anos em que ele plasma a exterioridade histórica e humana daquela região à sua própria experiência e processo criativo. Alia potências como a vontade de realizar com uma imaginação transformadora.

Ruínas

A incrível beleza que viu na vila, “em meio ao nada”, na época com apenas 300 habitantes, o fez desejar morar na região. E com a criação do Parque Nacional da Chapada Diamantina quis que as primeiras iniciativas da localidade dessem um novo rumo ao lugar.

Graças a ele, uma das ruínas dos garimpos tornou-se, em 2002, a Galeria Arte e Memória, com museu e um parque de esculturas, concebido em 1996.

“Coisas Existentes em Função do Desejo partiu da indagação de tudo que foi criado ali, dessa relação com a busca dos diamantes e minhas referências e arquétipos”, afirma o artista.

Para ele, as obras tentam traduzir a engrenagem que começou com a ocupação daquela área e teve seu auge e decadência, sempre considerando a presença do outro. “O que eu vejo no outro é um pouco de mim”.

É assim que numa obra como Reconhecemos Aqui a Nossa Existência Precária (A Cadeira do Dentista), ele ressignifica o fenômeno da extração.

De 2003 a 2005, coletou  900 dentes no serviço de saúde  de Andaraí e fez uma espécie de buquê com os dentes incrustados de diamantes, que o artista oferece à velha cadeira em que muitos experimentaram concretamente a impermanência.

Isso também acontece com as esculturas em que ele utiliza pedaços de raízes e troncos  recolhidos nas florestas devastadas da região. Depois do período diamantino (de 1844 a 1950), as madeireiras deram um tiro de misericórdia em espécies como o jacarandá.

“Busco essas coisas que foram extraídas e coloco de volta à mesa, sempre com compaixão e trazendo uma nobreza”, revela Zacariades. A intenção, diz ele, não é fazer denúncia, mas um questionamento.

A curadora da exposição, Alejandra Muñoz, escreve no texto de apresentação que o conjunto de obras do artista a faz lembrar das tábuas de Hieronymus Bosch, “pelas proximidades temáticas e dos contextos simbólicos”,  e que a exposição pode ser lida como um “complexo percurso pela fronteira entre a ética e a moral contemporâneas”.

Essa fronteira fica evidente, por exemplo, na instalação Carta do ABC. O artista se reconhece, embora com outra carga afetiva, no personagem Zé de Peixoto (do livro Cascalho, de Herberto Sales), um garimpeiro pobre, negro e órfão que nos momentos de folga, na infância,  era forçado a ler a Carta do ABC para aprender a ler.

“A Carta de ABC simboliza a lógica da persistência de valores oficiais anacrônicos em meios onde a pedagogia do chicote e a lei do mais forte imperavam”, escreve Munõz.

Para Zacariades, ainda se trata de uma condição contemporânea, já que “o passado se perpetua porque o modelo ainda insiste”. E ao lado de máquinas de datilografia ele instaura na instalação o máximo de mediação tecnológica.

“Meu trabalho parte de uma observação social. A base está muito ligada ao homem e a sua relação com a natureza e seus semelhantes, e sempre tem a  compaixão envolvendo um cenário caótico que está aí, porque da forma que as pessoas são alimentadas cultural, intelectual e amorosamente, não poderia ser diferente tudo que a gente vê”.

Serviço
O quê: Exposição: Coisas Existentes em Função do Desejo, de Marcos Zacariades
Quando: Abertura para convidados: nesta terça-feira, 1º, às 19h / Visitação: de 2 de abril a 18 de maio /  De terça-feira a domingo, das 9h às 18 horas
Onde: Galeria Arcos, Caixa Cultural Salvador /R Carlos Gomes, 57, Centro
Quanto: Entrada franca
Tel.: (71) 3421-4200

Fonte: A Tarde On Line

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